terça-feira, 31 de maio de 2011

A Queda do Grande Astro-Rei (Parte 1)

  Na aurora dos tempos, quando ainda havia civilização sobre a face da terra, quando continentes ainda não haviam afundado em meio às vagas trovejantes, quando pirâmides ainda eram construídas e habitadas e haviam colossais rochas sendo fincadas no solo juvenil de nosso planeta, caminhava um guerreiro em meio aos imensos edifícios de Tiahuanaco, cidade na qual viviam os Quatil-Leños, um povo valoroso, de tecnologia e valores morais avançados, mas uma sociedade ainda jovem e ingênua. E esse guerreiro, de nome Arretil, não podia descansar sua alma torturada, pois ainda vagava, exilado em meio a humanos, em busca de seu objetivo imortal, sua alma gêmea, seu grande amor.
 Incontáveis eras antes de Tiahuanaco florescer em meio ao seu vale verdejante, o Astro-Rei protegia a bela e jovem Terra, e em suas circundantes elipses tinha a seu lado sua imemorial companheira, a de cabelos argentos e face iluminada, de beleza e virtude infinda, Rainha-Luz.
  Sempre à sua destra e nunca mais longe do que seu olhar podia alcançar, sem perdê-la na curva do infinito horizonte, nas terras sem-luz, sempre ao seu lado vigiava por sobre os ombros do grande Astro-Rei, e dessa forma seguiam por ciclos e milênios. Grandes eram o orgulho e amor do Astro-Rei, mas possuir tudo que se deseja por tanto tempo fez com que a soberba sub-repticiamente, como o lagarto a rastejar sob as pedras frias na noite escura e sombria, se infiltrasse em seu coração.
 Grande inimiga do amor é a soberba, faz com que o sentimento torne-se posse, e a bondade esfrie e morra atrofiada em suas gélidas e sutis garras. O Astro-Rei não mais olhava para a Rainha-Luz, e em sua solidão silente, sofrendo por não mais ser querida, e talvez até amada, a Rainha-Luz cruzou a linha do horizonte, e dentro das trevas das terras sem-luz adentrou para perder-se e obliviar a dor da companhia daquele que não mais a queria.